sexta-feira, março 31, 2006

Serge Gainsbourg
















































O provocador, o misógino, o herói, o anti-herói, o demente, o criador genial, o artista vendido, o homem que fez um dueto com a sua filha falando de incesto, que a filmou de forma libidinosamente indecente, aquele que foi o embaixador da pop-art em França, aquele que disse que era preciso "percer ou crever", o tipo feio que teve algumas das mulheres mais belas do seu tempo, o pintor falhado que se tornou músico, o músico que fez filmes maravilhosamente escandalosos, aquele que disse que nunca seria meigo com as mulheres, o que as amou dizendo que as odiava, que pôs uma menina de 17 anos a dizer que adorava sucettes, a sua mulher a simular um orgasmo para a posteridade, aquele que viveu no excesso e no génio...

Isto a propósito de, depois dos álbuns de homenagem ao mestre de John Zorn e Mick Harvey, eis uma nova edição, um disco ("Monsieur Gainsbourg Revisited") em que se afirmam como fãs e re-intérpretes nomes como:
Franz Ferdinand
Cat Power
Portishead
Marianne Faithfull
Michael Stipe
The Kills
Tricky
...entre outros.

Bienvenus à La Décadanse

Lição

Hoje o meu corpo está estranhamente revoltado contra mim. Pensei que, se o tratasse bem, ele também me retribuiria alguma da simpatia, tolerando os meus esporádicos abusos. No fim de contas, estava errado. Ficou exigente e temperamental.

Lição clara a meus olhos pela n-ésima vez: tratar algo ou alguém demasiado bem é contraproducente...

A prova

Continua a atormentar-me esta noção, esta presença da alma por baixo dos corpos. E, por isso, tantos, tão desejáveis, rejeito. Porque não me consigo interessar por eles. Porque não me consigo abstrair que sem uma alma, um corpo é vazio.

E pelo facto de ainda crer que a tua alma é mais bela que as outras, sei que continuo apaixonado por ti...

quinta-feira, março 30, 2006

Prata

Entreguei-te o meu coração num tabuleiro em prata.

Agradeceste-me depois o tabuleiro, dizendo que deitaste fora aquilo nojento que estava em cima dele...

quarta-feira, março 29, 2006

Miopia

Ocorreu-me que talvez faça da miopia, para além de um estado físico, uma postura filosófica...

Não me esquecerei

Try to make your words sweet, in case you have to swallow them.

- Garfield, the cat

segunda-feira, março 27, 2006

Clarificação do conteúdo do post anterior

...trata-se apenas de uma constatação.

O amor é algo de suficientemente complexo e imprevisível para negar a possibilidade de isso vir a acontecer...

A Direita II

Por outro lado, nunca me interessei romanticamente por raparigas de direita.

E não, essa nunca foi uma pergunta prévia...

A Direita I

Tenho-me visto a apreciar desmedidamente alguns blogs escritos por pessoas assumidamente de direita (alguns links estão ao lado).
Acho que desde os tempos em que comprava o Independente pelas crónicas do MEC que ficou o vício...

Ilusão

Pires de Lima deseja que o CDS se torne num partido "sexy". A direita conservadora... "sexy"?

Pires de Lima sonha com um mundo em que um homem nú em peúgas se torne imaginário erótico feminino...

Post roubado

do you know what it's like to care too much
'bout someone that you're never gonna get to touch

Eels

Ética da tampa - reflexão

Nos arquivos deste blog pode-se ler isto:

"Até a guerra tem uma ética. Até a guerra tem a convenção de Genebra. Apenas a tampa não tem uma ética. As pessoas são amadas e tratam quem as ama como macaquinhos amestrados."

Ora bem, eu por cá, como acho muito mais fácil curar uma paixão com uma justificada antipatia, parece-me especialmente pernicioso levar uma tampa com delicadeza e diplomacia...

domingo, março 26, 2006

Pausa

Ao contrário das expectativas, o fim de semana acabou por ser de sopas e descanso a nível sentimental. A minha reconciliação comigo está em franco progresso e algum sossego espiritual não pode ser mau.
É que está aí a Primavera, começam os dias mais compridos, o calor a voltar e, se bem me conheço, não deverá tardar nada nova crise sentimental...

Nada

E quando vejo o filme de Suleiman (árabe, palestiniano) ou quando leio Keret (judeu, israelita), quando vejo a forma como se apropriam das respectivas artes para acabar a falar de amor, pergunto-me mas que raio é que nos separa a todos?

Intervenção Divina












O poético, o absurdo e o onírico como meios de representação do mal-estar da vida de um palestino em Jerusalém. Mas também a utilização de uma concepção de burlesco que muito deve a Tati. Acabei de rever "Intervenção Divina" de Elia Suleiman, subtitulado de "Uma Crónica de Amor e Sofrimento".
E não é qualquer autor que consegue misturar um realismo quase clínico (literalmente, nas cenas da doença do pai do realizador/personagem), com cenas oníricas de uma violência poética extrema (um caroço de pêssego que explode um tanque israelita, uma mulher-de olhar-bomba que paraliza os soldados israelitas no ckeck point entre Ramallah e Jerusalém, um balão vermelho com a cara de Arafat que flutua sobre Jerusalém...) e com o amor representado sem palavras, através do toque de mãos invisível, dentro de um carro estacionado no tal check point (que cada um dos amantes não pode cruzar para a zona onde vive o outro)...

sexta-feira, março 24, 2006

Método experimental

Gostava de experimentar um conceito alternativo e fracturante: encontrar a identidade no fundo de um copo.

The Smiths - Ask

quinta-feira, março 23, 2006

Reencontro

Reencontrei a minha alma este fim de tarde, entre uns tímidos raios de sol e uma retemperante aula de yôga. Não dissemos grande coisa, afinal estamos juntos há tanto tempo que já nos entendemos sem grandes conversas. Sabemos que pertencemos juntos e não temos grande coisa a recriminar reciprocamente, nos dias que correm. E a nossa confiança já nos permite saber que, mesmo separados, não faremos nada que envergonhe o outro.

E concluo que a auto-suficiência é um estado de graça.

Piloto automático

Existe este estado em que somos capazes de reagir a solicitações, sorrir, dialogar, fingir sentimentos e reacções quando a nossa alma anda algures em paradeiro desconhecido e também não queremos saber dela para nada...

quarta-feira, março 22, 2006

Oxigénio

O coração tem uma estranha ligação aos pulmões: há momentos em que sinto um sopro vital a percorrer-me e a preencher os meus alvéolos pulmonares.

E quando estou longe de ti, sinto esta apneia sentimental...

sábado, março 18, 2006

Fios
















A nossa vida está presa por fios.
Um parafuso desapertado na nossa protecção e...

Massive Attack - Karmacoma

Some days are better than others...

É difícil descobrir alguma poesia em certos dias.

Há que nos esforçarmos, muito...

Belle Chaise Hotel - Sunset Boulevard

sexta-feira, março 17, 2006

In love?

Como salvar uma sexta-feira cinzenta e chuvosa?
Com os meus auscultadores a gritarem-me isto aos ouvidos:

I don't care if monday's blue
Tuesday's grey and wednesday too
Thursday i don't care about you
It's friday i'm in love

The Cure - Friday I'm In Love

Lovesong

Há sentimentos tão doces que não se lhes pode negar o direito à esperança ou à ilusão...

However far away I will always love you
However long I stay I will always love you
Whatever words I say I will always love you
I will always love you

The Cure - Lovesong

quinta-feira, março 16, 2006

Post ridículo e gratuito II

Hoje
também
estou
um
pouco
self-centered
...

Post ridículo e gratuito

O verde do céu contrastou hoje com o rosa dos edifícios no horizonte.

Assomou-se de mim uma febre fauvista...

Tornei-me um optimista incorrigível?

Desde 2003 que, quando me perguntam qual a melhor altura da minha vida, respondo convictamente:

- Esta.

In a manner of speaking

Há músicas cujas letras merecem 1000 leituras...

"...but the way that I feel about you is beyond words..."

Tuxedomoon - In a Manner of Speaking

terça-feira, março 14, 2006

Só mais uma...

Alguém que compreenda algo até às suas profundezas, raramente se mantém fiel a isso para sempre. Porque trouxe as suas profundezas à luz do dia: e nas profundezas há sempre muito de desagradável para ver.

(Nietzsche)

Devo andar niilista, hoje...

Às vezes são necessários apenas uns óculos mais fortes para curar o apaixonado, aquele que tiver a imaginação para imaginar uma face, uma silhueta vinte anos mais velha talvez passe pela vida sem grandes perturbações.

(Nietzsche)

Mais Nietzsche

As mulheres são bastante capazes de ser amigas de um homem; mas preservar essa amizade - isso sem dúvida necessita da assistência de uma ligeira antipatia física.

(Nietzsche)

Remedium amoris

A cura para o amor ainda é, na maioria dos casos, aquele velho remédio radical: ser correspondido.

(Nietzsche)

Robot

Olhaste-me com os teus olhinhos de cadelinha abandonada e esticaste os teus lábios à espera de um beijo. Olhei à volta. Estávamos num lugar público, porra. Acho que sorri com um bocadinho de desdém, sem querer.
Disse-te: "cachorros abandonados não são a minha onda, sabes?"

Não consigo sequer lembrar-me do teu nome.

Nada Surf - Robot

domingo, março 12, 2006

No meu sangue

Vaza-me os olhos: continuarei a ver-te,
tapa-me os ouvidos: continuarei a ouvir-te,
mesmo sem pés chegarei a ti,
mesmo sem boca poderei invocar-te.
Decepa-me os braços: poderei abraçar-te
com o coração como se fosse a mão.
Arranca-me o coração: palpitarás no meu cérebro.
E se me incendiares o cérebro,
levar-te-ei ainda no meu sangue.

(Rainer Maria Rilke)

descoberto aqui

Azul

Quando entrei na tua cabeça, finalmente percebi uma parte do teu encanto.

Mas como é que vês o céu tão mais azul do que eu?

terça-feira, março 07, 2006

Mais penas...

Tenho a boca cheia de penas.

Terá sido um anjo que passou por aqui...?

Tindersticks - Sleepy Song

sábado, março 04, 2006

Feather

Licked her lips
And turned to feather
The passion of lovers is for death, said she

Bauhaus - The Passion of Lovers

Deserto















A inverosimilhança da escala - longe de tudo que alguma vez vimos.

A consciência de que o deserto representa a morte anunciada do nosso planeta, que a sua progressão representa o fim da diversidade biológica que, fatalmente, tornará o nosso planeta árido e insustentável. Mas, ao mesmo tempo, a consciência de uma beleza enorme, indescritível. A paz da morte, da consciência da nossa mortalidade colectiva. Um sentimento terrífico e lindo.

Como se vê, ainda não me recompus...

Duras

Não sabemos para onde vamos, mas não é uma razão para lá não ir.

Marguerite Duras escreveu algo assim acerca do Maio de 68 , e eu subscrevo.

Autobahn

As autoestradas tiraram-nos o prazer de cruzar as paisagens com tempo. Enfrentar os acidentes topográficos, em estradas serpenteantes. Encontrar povoações perdidas no meio de nenhures. Cruzarmo-nos com os seus habitantes e pensar como poderíamos abdicar do acesso às mil e uma comodidades e serviços ao nosso dispôr nas cidades. Cheirar as diferentes culturas à beira da estrada. Descobrir cursos de água. Descobrir, no Verão, a multiplicidade de festas de emigrantes, em vilas e aldeias semeadas de casas concorrendo umas com as outras para o título da mais pirosa. Sentirmo-nos aliens em pequenos restaurantes à beira de uma estrada perdida.

Cada vez mais, o prazer do caminho torna-se uma memória que os nossos filhos desconhecerão...

Kraftwerk - Autobahn

sexta-feira, março 03, 2006

Cicatrizes

Antes, éramos folhas em branco. Hoje, sabemos o que são marcas e feridas e sabemos que ambos as temos.

Antes, era uma descoberta, uma perda de virgindade. Hoje, tacteamos as nossas experiências recíprocas e tentamos perceber a forma como se encaixam.

Antes, o outro era um mundo de possibilidades. Hoje, tentamos adivinhar no outro aquilo que nos magoou antes.

Desejo que nunca percamos a capacidade de nos maravilhar com a descoberta de novas pessoas. Que nunca menosprezemos a complexidade infinita que cada um de nós encerra. Que nunca subestimemos a dificuldade em realizar essa tarefa. E o prazer que nos pode proporcionar.

E quero tanto descobrir as tuas cicatrizes...

Depeche Mode - Damaged People