terça-feira, julho 11, 2006

Afrodite

















Odisseus andava um dia à caça ao pé das montanhas de Delfos, quando encontrou duas virgens que iam de mãos dadas.
Uma delas tinha cabelos de violetas, olhos transparentes e lábios graves, e disse-lhe: "Eu sou Aretu". A outra tinha pálpebras lânguidas, mãos delicadas e seios ternos e disse-lhe: "Eu sou Trifé". E logo as duas acrescentaram: "Escolhe uma de nós". Mas o subtil Odisseus respondeu habilmente:
"Como poderia eu escolher? Vós sois inseparáveis. Os olhos que vos têm visto passar uma sem a outra, surpreenderam apenas uma sombra estéril. Assim como a virtude não se priva das alegrias eternas que a voluptuosidade lhe propicia, assim a volúpia pareceria mal sem uma certa grandeza de alma. Seguir-vos-ei a ambas. Ensinai-me o caminho".
E logo que acabou de dizer isto, as duas visões confundiram-se - e Odisseus soube que tinha falado à grande deusa Afrodite.

Pierre Louÿs, "Afrodite"