domingo, julho 09, 2006

Sonhos




















Tinha percebido definitivamente que os nossos sonhos não descem à terra a não ser o tempo de nos fazer uma negaça deixando-me um sabor na língua, qualquer coisa como que duma compota de coágulos, e peguei no engrimanço, assim, mesmo no meio do campo, e o meu lápis prosseguiu unanimemente, porque um secretarivão, um a valer, jamais recua perante o dever de dar um nome às coisas, que é o seu ofício, e eu já me achava bastante desarmada pela vida para não me desejar despojar ainda mais, à maneira dos franciscanos e das mulas de olhos meigos, e chegar ao ponto de me desmuniciar das minhas bonecas de cinzas, quero eu dizer das palavras, tão verdade é que somos pobres de tudo o que não se sabe nomear, como diria o Justo Castigo, se soubesse falar.


Gaétan Soucy, "A Rapariguinha que Gostava Demasiado de Fósforos", traduzido por Paula Reis