segunda-feira, janeiro 30, 2006

Semestre

Não te conhecia, até te ver naquela aula de Terça-feira de manhã. Sentaste-te na primeira fila do anfiteatro, do lado oposto ao meu. Reparei nos teus cabelos castanhos escorridos e na tua atitude confiante. Não mais me lembrei de ti até à semana seguinte. Voltaste ao mesmo lugar e notei o teu nariz deliciosamente empinado e a forma como, sobre ele, ajustavas os teus óculos de designer italiano. Na semana seguinte, notei o teu peito perfeito por baixo da tua blusa e fiquei alguns segundos suspenso, sem respirar. Aproximava-me do teu lugar, semana a semana. À medida que o tempo aquecia, começavas a trazer saias cada vez mais curtas e notava os teus tornozelos delicados. Perdia-me a observá-los e ao teu sorriso tímido. Quando esse sorriso surgia, concentrava-me nos teus lábios e imaginava-me a beijá-los até sentir um arrepio que me percorria o corpo todo. Por detrás dos óculos, haviam uns olhos castanhos amendoados que fitavam o quadro e eu jurava que ele também não resistia a fitar-te fixamente de volta. Algumas vezes, juro que o vi a suspirar por ti. Uma semana, estive tão perto de ti que, fingindo tomar apontamentos, inclinei-me na secretária o suficiente para sentir o aroma do teu cabelo. Era tão maravilhosamente doce, misturado com o teu perfume, que me senti a suar, pelo esforço de me conter no meu lugar e não te perturbar.

Até que, para o final do semestre, me cruzei contigo antes da aula e sorriste para mim. Nesse dia, voltei para a minha ponta do anfiteatro. Passaste a ser como as outras.