Turno
João não faz o turno da noite por acaso.
Na crueza nua das fachadas da cidade banhadas pela luz laranja da iluminação pública, encontra a honestidade plana que lhe faz falta. O tipo de verdade que, durante o dia, apenas é discernível naquele breve instante captado pelo canto do olho, que quando se olham os objectos e as pessoas de frente todos eles se tornam máscaras.
Nos ressonares nocturnos, nas flatulências incontroláveis do sono profundo, na entrega ébria e na necessidade trágica traduzida em rituais de sedução de mau gosto, ele finalmente reconhece a verdadeira natureza humana, aquela escondida pelas conveniências, vaidades e fingimentos diurnos.
João nunca soube lidar com a mentira. Só a noite pode ser o seu tempo.
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