terça-feira, fevereiro 14, 2006

Fim

Numa onda, a turba investe contra os portões. Cá dentro, aninho-me junto a um canto da sala, convenientemente afastado das janelas, por onde entram pedras de várias dimensões e pesos. Jamais se poderá saber a verdade sobre o que se passou cá dentro. A onda de histeria popular criou a sua história, da qual se alimentaram as televisões e os jornais. A verdade é um detalhe irrelevante. Quando a mentira se infiltra nas mentes pequenas, a verdade não poderá sobreviver. A minha criação já foi destruída, eles não saberiam o que fazer com ela. Aguarda-me o linchamento às mãos da mole de revoltados. Jamais poderão almejar chegar aonde cheguei. Jamais as suas vidas serão extraordinárias, tirando o momento em que se depararão comigo e me matarão. Não é a sua culpa. Eles não são livres. São manipulados e programados pelos sistemas de controlo e condicionamento que lhes foram impostos.

Penso em Byron, Shelley (de certo modo, a minha inspiração) e os outros na Villa Diodati - e as reacções populares ao que lá se passava - e percebo que a história não faz mais do que se repetir a si mesma. E que arte e ciência estão do mesmo lado da barricada.

Sonic Youth - Tom Violence